A lavanda e seus benefícios
- André Pinheiro Almeida
- 5 de mai. de 2021
- 5 min de leitura

(Imagem: Carol Costa/Minhas Plantas)
A lavanda, também conhecida como alfazema, é uma planta aromática e medicinal conhecida e utilizada mundialmente para uso cosmético, farmacêutico, na perfumaria e culinária também. Muitos benefícios da lavanda são fruto do uso terapêutico e no tratamento de distúrbios e doenças. De forma mais intensa e efetiva, o óleo essencial extraído da lavanda potencializa esses benefícios, pois concentra a maior parte dos compostos químicos encontrados na planta.
As plantas de lavanda
Pertencentes à família Lamiaceae, as plantas do gênero Lavandula são conhecidas como lavanda ou alfazema, e têm origem no sul da Europa, na região do mediterrâneo (Lorenzi; Souza, 2008). No gênero Lavandula podemos encontrar cerca de 40 espécies de plantas, porém, podemos destacar algumas principais como: Lavandula angustifolia Mill, Lavandula intermedia Emeric ex Loisel, Lavandula latifolia Medik (Lesage-Meessen et al., 2015) e Lavandula dentata (lavanda francesa), além de dezenas de cultivares destas espécies, as quais se caracterizam como pequenos arbustos, com folhas verde-acinzentadas e flores mais comuns sendo azuis, quase violetas, de onde são extraídas os óleos essenciais (Costa, 2002).
Utilizada não é de hoje…
A lavanda já era usada desde os tempos antigos. Os romanos utilizavam seu óleo essencial para tomar banho, lavar roupa, aromatizar ambientes e como produto curativo, séculos atrás (Lorenzi; Souza, 2008). Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Cooperativa Científica Europeia de Fitoterapia (ESCOP), além da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) aprovam o uso de lavanda no tratamento contra o estresse, inquietação e ansiedade.
E não para por aí…
A lavanda ainda pode ser utilizada no tratamento contra nevralgia, bronquite crônica, asma brônquica, astenia, vertigem, cólicas, flatulências (Cavanagh e Wilkinson, 2005), dispepsia e inapetência. Além disso, possui propriedades antibacterianas, antifúngicas (Justus et al., 2018), contra queimaduras solares, repelência e ação inseticida (Cavanagh e Wilkinson, 2002) e acaricida (incluindo carrapatos também) (Fadia et al., 2015), além do já mencionado tratamento contra ansiedade, e depressão (Malcolm e Tallian, 2017).
E não para por aí: o óleo essencial de lavanda atua como depressor do sistema nervoso central, anticonvulsivante, agente espasmolítico, sedativo, anestésico local e antioxidante (Cavanagh e Wilkinson, 2002; Kim e Lee, 2002; Lis-Balchin e Hart, 1999; Ghelardini et al., 1999; Hohmann et al., 1999; Tisserand, 1985).
Pesquisas recentes demonstraram o uso do vapor do óleo essencial de Lavandula dentata (lavanda francesa) em condições de laboratório. Segundo Justus et al. (2019), esse óleo essencial foi capaz de reduzir significativamente células de câncer de pulmão, atuando em processos necróticos e apoptóticos. Em outra pesquisa, o óleo essencial de Lavandula angustifolia foi capaz de reduzir moderadamente vermes de Schistosoma mansoni, parasita causador da esquistossomose, de acordo com Mantovani et al. (2013).
Outro estudo realizado em laboratório demonstrou que o óleo de lavanda pode reduzir lesões renais após o transplante, atuando como um potente anti inflamatório (Aboutaleb et al., 2019). Realmente, conforme mais pesquisas são realizadas, mais descobertas sobre o uso e os benefícios que esta planta medicinal pode oferecer.
De qual forma a lavanda atua?
Quando observamos que o óleo essencial de lavanda concentra as principais substâncias medicinais e terapêuticas da planta, isso se deve ao que se chamam de metabólitos secundários, que nada mais são compostos químicos orgânicos extraídos da lavanda, principalmente os chamados monopertenos (responsáveis também pelo aroma agradável e do cheiro forte e penetrante da fragrância de lavanda), tais como: linalol, acetato de linalina, 1,8-cineol, cânfora, óxido de cariofileno, ocimeno, entre outros compostos, os quais variam suas concentrações de acordo com a espécie e a cultivar (NATIONAL SUSTAINABLE AGRICULTURE INFORMATION SERVICE - ATTRA, 2006).
Mas como a lavanda é utilizada para tratamentos?
Dentro da fitoterapia (uso de plantas medicinais para tratamento e prevenção de doenças) temos a aromaterapia, a qual utiliza os óleos essenciais em busca de seus efeitos terapêuticos, sendo o óleo essencial de lavanda um dos remédios fitoterápicos mais vendidos no mundo, para ansiedade, estresse e depressão (Da Porto et al., 2009).
A lavanda pode ser administrada internamente na forma de infusão, com cerca de uma a duas colheres do extrato seco por copo de água. Externamente (do corpo), a lavanda pode ainda ser utilizada como aditivos em banhos de imersão, segundo o Therapeutic Guide to Herbal Medicines (1998).
As vantagens e benefícios encontrados no uso medicinal da lavanda descritos acima podem ser diversos, por exemplo, ao reduzir, alternar, ou até remover o uso de drogas com efeitos colaterais adversos, como distúrbios neuropsiquiátricos, além do chamado “efeito rebote” após o desuso destes medicamentos convencionais.
A inalação de óleo essencial de lavanda mostra ser uma alternativa natural, utilizada há séculos pela humanidade, como tratamento fitoterápico de diversas enfermidades, muitas delas simples até algumas bastantes severas. Cada vez mais, pesquisas têm revelado maiores utilidades e os mecanismos desta poderosa planta medicinal.
As pesquisas científicas encontram-se avançadas e recomendamos aos pesquisadores aspirantes a leitura do artigo produzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa, atuantes no Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas disponível no seguinte endereço: https://doi.org/10.1016/j.indcrop.2019.04.051.
Referências bibliográficas:
Aboutaleb, N., Jamali, H., Abolhasani, M., & Toroudi, H. P. (2019). Lavender oil (Lavandula angustifolia) attenuates renal ischemia/reperfusion injury in rats through suppression of inflammation, oxidative stress and apoptosis. Biomedicine & Pharmacotherapy, 110, 9-19.
ATTRA.NATIONAL SUSTAINABLE AGRICULTURE INFORMATION SERVICE. Lavender Production, Products, Markets, and Entertainment Farms. 2006. Disponível em <http:// attra.ncat.org/attra-pub/lavender.html >. Acesso em 22 ago. 2011.
Cavanagh, H.M.A., Wilkinson, J.M., 2002. Biological activities of Lavender essential oil.Phytotherapy research 16, 301–308
Cavanagh, HMA, Wilkinson, JM, 2005. Lavender essential oil: a review. Control 10, 35–37. https://doi.org/10.1071/hi05035 .
Costa, A.F. Farmacognosia. Lisboa: Fundação Calouste Gullbenkiar, 2002. V.1
Da Porto, C., Decorti, D., and Kikic, I. (2009). Flavour compounds of Lavandula angustifolia L. to use in food manufacturing: comparison of three different extraction methods.Food Chem. 112, 1072–1078. doi: 10.1016/j.foodchem.2008.07.015
Fadia, A., Al–Naser, Z., Al-Hakim, W., 2015. Chemical composition of Lavandula angustifolia Miller and Rosmarinus officinalis L. essential oils and fumigant toxicity against larvae of Ephestia kuehniella Zeller. Int. J. ChemTech. Res. 8, 1382-1390.
Ghelardini, C., Galeotti, N., Salvatore, G., Mazzanti, G., 1999. Local anaesthetic activity of the essential oil of Lavandula angustifolia. Planta Med. 65, 700-703.
Hohmann, J., Zupko, I., Redei, D., Csanyi, M., Falkay, G., Mathe, I., 1999. Protective effects of the aerial parts of Salvia officinalis, Melissa officinalis and Lavandula angustifolia and their constituents against enzyme-dependent and enzyme independent lipid peroxidation. Planta Med. 65, 576-578.
Justus, B., Almeida, V.P.d., Gonçalves, M.M., D.P.d.S.F.d. Assunção, Borsato, D.M., Arana, A.F.M., Maia, B.H.L.N.S., Paula, J.d.F.P.d., Budel, J.M., Farago, P.V., 2018. Chemical composition and biological activities of the essential oil and anatomical markers of Lavandula dentata L. cultivated in Brazil. Braz. Arco. Biol. Technol. 61, e18180111. https://doi.org/10.1590/1678-4324-2018180111 .
Justus, B., Kanunfre, C. C., Budel, J. M., de Faria, M. F., Raman, V., de Paula, J. P., & Farago, P. V. (2019). New insights into the mechanisms of French lavender essential oil on non-small-cell lung cancer cell growth. Industrial Crops and Products, 136, 28-36.
Kim, N.S., Lee, D.S., 2002. Comparison of different extraction methods for the analysis of fragrances from Lavandula species by gas chromatography-mass spectrometry. J. Chromatogr. A 982, 31-47.
Lesage-Meessen L, Bou M, Sigoillot J-C et al (2015) Essential oils and distilled straws of lavender and lavandin: a review of current use and potential application in white biotechnology. Appl Microbiol Biotechnol 99:3375–3385
Lis-Balchin, M., Hart, S., 1999. Studies on the mode of action of the essential oil of lavender (Lavandula angustifolia P. Miller). Phytother. Res. 13, 540-542.
LORENZI, H.; SOUZA, H. M. de. Plantas ornamentais do Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2008. 1123 p.
Malcolm, B.J., Tallian, K., 2017. Essential oil of lavender in anxiety disorders: Ready for prime time? Ment. Health Clin. 7, 147–155. https://doi.org/10.9740/mhc.2017.07.147
Mantovani, A. L., Vieira, G. P., Cunha, W. R., Groppo, M., Santos, R. A., Rodrigues, V., ... & Crotti, A. E. (2013). Chemical composition, antischistosomal and cytotoxic effects of the essential oil of Lavandula angustifolia grown in Southeastern Brazil. Revista Brasileira de Farmacognosia, 23(6), 877-884.
The Complete German Comission E monographs: therapeutic guide to herbal medicines. Austin, Texas: American Botanical Council, 1998. P. 159-158
Tisserand, R., 1985. The art of aromatherapy . Safron Walden CW Daniel Co. Ltd.
Interessantíssimo! Não fazia ideia que uma planta tão linda quanto a da lavanda tinha tantos benefícios na sua composição bioquímica!
Bem legal saber mais sobre essa plantinha tão cheirosa e rica em propriedades medicinais! Parabéns pela postagem!