Conversando sobre o boldo: composição química dos óleos essenciais

A importância do estudo das propriedades químicas das plantas medicinais

(Imagem: Bruno Martins. Getty Imagens) O uso de plantas medicinais é algo recorrente desde os tempos antigos, estudos mostram que 10% de todas as plantas vasculares são utilizadas como plantas medicinais. Esse uso pode se dar para tratar doenças, no entanto, é preciso tomar cuidado. Atualmente, temos disponibilidade de recursos que permitem os estudos e análises das plantas, avaliando cada propriedade química e possibilitando um controle acerca da sua utilização, que, feita de maneira errônea pode trazer malefícios para o paciente. Portanto, mostra-se importante a pesquisa sobre as propriedades químicas de plantas tão conhecidas popularmente (Salmerón-Manzano et al, 2020). Nesse artigo nós vamos conversar sobre plantas da espécie Plectranthus, conhecido popularmente como boldo. Há quatro espécies do gênero Plectranthus (Plectranthus grandis, Plectranthus barbatus, Plectranthus neochilus e Plectranthus amboinicus) que são conhecidas como boldo e possuem diversas semelhanças e propriedades medicinais (Bandeira et al., 2011). O foco do trabalho de Bandeira et al. (2011) foi o de contribuir para o estudo do gênero Plectranthus, avaliando quantitativamente e qualitativamente os óleos essenciais presentes nas folhas das quatro espécies citadas. A determinação das diferenças entre essas quatro espécies é importante para a melhor compreensão acerca dos óleos essenciais, possibilitando resultados mais efetivos. Sobre as espécies abordadas

O gênero Plectranthus, pertencente à família Lamiaceae, é um dos mais ricos em óleos essenciais e compreende plantas de interesse medicinal e econômico, no entanto, muito pouco se sabe sobre a composição química dessas espécies. De 300 espécies já identificadas, 62 possuem propriedades medicinais, alimentícias, flavorizantes, antissépticas, repelentes, etc. O foco aqui são as espécies conhecidas como boldo, utilizadas principalmente graças às propriedades antidispépticas, analgésicas e estimulantes da digestão. Muitas dessas propriedades se dão graças aos óleos essenciais, constituintes de diversas classes de compostos, como por exemplo, os terpenos e o fenilpropenos.

Óleos essenciais são compostos voláteis com forte odor que são produzidos por plantas aromáticas no metabolismo secundário. Eles apresentam uma série de propriedades, desde atividade antimicrobiana até antidispéptica. Muitas dessas características são notadas desde a Idade Média, a grande diferença é que, atualmente, é possível analisar com maior detalhamento os componentes químicos desses compostos e entendê-los (revisado em Bakkali et al., 2007)

As espécies P. barbatus e P. grandis, são conhecidas, respectivamente, como falso-boldo e boldo-grande possuem inúmeras semelhanças morfológicas, sendo confundidas com frequência. A espécie P. barbatus pode ser utilizada como tônico, digestivo, hipossecretor gástrico, para afecções do fígado e ressaca alcoólica, além de possuir atividades analgésicas, antiinflamatorias, coleréticas, promove secreção biliar, antifúngica, antiséptica, antiviral, antitumoral, antibacteriana e antioxidante. As demais espécies (Plectranthus neochilus e Plectranthus amboinicus) possuem propriedades medicinais semelhantes, no entanto com composição química dos óleos variantes.

Resultados da pesquisa

O trabalho avalia as quatro espécies em relação à sua composição, sendo possível identificar qual espécie possui maior quantidade de óleos essenciais. Métodos químicos foram aplicados para conseguir diferenciar esses componentes químicos.

Entre os componentes químicos de maior concentração nos óleos essenciais do boldo estão os trans-cariofilenos nas espécies P. neochilus e P. amboinicus (25%). No caso específico do boldo a combinação de terpenos permite a sua utilização em enfermidades estomacais. No entanto, essas moléculas são componentes do metabolismo secundário de inúmeras plantas que são tradicionalmente usadas para aromatizar cosméticos e perfumes (Wagner & Elmadfa, 2003). Além disso, apresentam inúmeras propriedades que estão estudadas com efeitos em enfermidades tão sérias quanto patologias inflamatórias que envolvem doenças do sistema nervoso Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla entre outras), areterioesclerose e tumores (Francomano et al., 2019). Os B-cariofilenos, na maioria dos casos, são compostos com baixa concentração nas plantas. A via de biossíntese de cariofileno já foi descrita para algumas espécies de plantas, confira neste link.

Outros componentes também são específicos para cada espécie. Com este estudo é possível concluir que as quatro espécies de boldo possuem diferenças quanto ao teor e a constituição química do óleo essencial.

Aguarde o próximo post onde discutiremos os avanços na genética para biossíntese do composto de cariofileno!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BANDEIRA, J. M. et al. Composição do óleo essencial de quatro espécies do gênero Plectranthus. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 13, n. 2, p.157–164, 2011.

BAKKALI, F., AVERBECK, S., AVERBECK, D., IDAOMAR,M. Biological effects of essential oils – A review. Food and Chemical Toxicology, 46(2), 446–475. 2008. doi:10.1016/j.fct.2007.09.106

FRANCOMANO, F. et al. β-Caryophyllene: A Sesquiterpene with Countless Biological Properties. Applied Sciences, v. 9, n. 24, p. 5420, 11 dez. 2019. doi.org/10.3390/app9245420

SALMERÓN-MANZANO, E., GARRIDO-CARDENAS, J. A., MANZANO-AGUGLIARO, F. Worldwide Research Trends on Medicinal Plants. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(10), 3376. 2020. doi:10.3390/ijerph17103376

‌WAGNER K-H, ELMADFA I. Biological relevance of terpenoids. Annals of Nutrition and Metabolism. 47(3–4):95–106. 2003. doi: 10.1159/000070030.