Gengibre: Os desafios para o melhoramento genético em plantas com potencial medicinal no Brasil.
- Jonathan Ferreira Macedo
- 12 de abr. de 2021
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Muitas plantas com propriedades medicinais são cultivadas no Brasil, algumas para o uso diário, como a alimentação, e outras para fins industriais, como a confecção de remédios, por exemplo. Com esses objetivos em grande escala, é necessária a observação sobre a manutenção destes vegetais, visto que, muitos deles possuem limitações quanto ao melhoramento genético, podendo ser estéreis e muitas vezes correndo riscos de reduzir sua diversidade por efeito de animais, condições ambientais ou até de patógenos que se nutrem de plantas que não detêm as necessárias resistências.
No Brasil, espécies pouco adaptadas à determinada região, por exemplo, foram intensamente inseridas no território nacional em razão do resultado de muitos estudos de melhoramento genético. O crescente conhecimento de técnicas moleculares, que são estudos voltados a compreender as ações por trás da transcrição, tradução e replicação dos dados genéticos de uma célula, permite a inserção de pesquisas em laboratórios que visam expandir esses sucessos genéticos.
O gengibre (Zingiber officinale) é uma destas plantas que enfrenta desafios para seu melhoramento e diversidade genética.
O gênero Zingiber é bastante conhecido por sua importância medicinal e condimentar em diversas culturas, e amplamente cultivado em regiões tropicais e subtropicais do mundo (Blumenthal, et al., 2000; Sekiwa, et al., 2000). Apesar das variadas espécies existentes, o gengibre (Z. officinale) é comumente cultivado no Brasil, sendo introduzido no território nacional após a colonização européia, e hoje é amplamente plantado no sul e sudeste brasileiro, voltado principalmente para a exportação.
Compreende-se que, para ampliar e intensificar o cultivo e lutar por um espaço competitivo no agronegócio, é extremamente importante absorver conhecimento e aprofundamentos em relação ao melhoramento genético e também à variabilidade de uma espécie. É bem frequente encontrar pesquisas sobre o gengibre no campo científico voltadas para propósitos farmacológicos e de propriedades medicinais (Chang et al., 2013; Jeena et al., 2015; Baliga et al., 2011; Butt e Sultan, 2011), mas raros são os incentivos públicos ou privados para a obtenção de estudos sobre germoplasma e de variabilidade genética, principalmente com foco na conservação.
Por ser uma planta de propagação vegetativa, ou em outros termos, que multiplica-se assexuadamente através de uma parte da planta (Xavier et al., 2013), no caso do gengibre é através de pedaços de rizomas que apresentam diversas gemas para possível germinação, esse método propagativo pode apresentar problemas fitossanitários, com a disseminação de patógenos (Debiasi, et al., 2004) e destruição de plantações, por ação de determinadas espécies de fungos como Fusarium oxyporium, Armillariella mellea e Sclerotium rolfsii; algumas espécies de nematóides como Meloidogyne incognita e M. javanica e de certas bactérias como Ralstonia solanacearum e Erwinia sp. (Arimura, 2002), todas intensamente danosas ao desenvolvimento do gengibre.
Os estudos genéticos movem-se na contrapartida a estes desafios para possibilitar maior qualificação de culturas na obtenção de características específicas de determinado interesse. Apesar de pesquisas focadas em problemas fitossanitários (Debiasi, et al., 2004), sucessos voltados para resistência vegetal assumem grande importância e destaque quando conquistados, como é o caso de melhoramento genético. O banco de germoplasma, que é semelhante a um “cofre” com diversas espécies de uma planta, permite a conservação do material genético, podendo ou não ser utilizado em experimentos, com a possibilidade de realizar pesquisas de melhoramento.
No Brasil, foi criado dentro do Departamento de Genética (LGN) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), na Universidade de São Paulo (USP), um banco de germoplasma do gengibre, com potencial de pesquisa, mas com barreiras de investimentos, tanto público quanto privado. As pesquisas envolvem metodologias modernas, como a utilização de marcadores moleculares, permitindo diferenciar alelos para características específicas. Atualmente, a variação genética do gengibre decorre, majoritariamente, de processos de seleção natural e mutação de modo aleatório (Blanco, et al., 2016).
Pesquisas através de marcadores moleculares têm ocupado significativa importância para proporcionar abertura para futuros estudos. Dentro da ESALQ/USP, sob a orientação do Prof. Dr. José Baldin Pinheiro, procedimentos e análises baseadas na utilização de AFLP (Amplified Fragment Length Polymorphism), um tipo de marcador molecular, permitiram observar através da variância molecular que as variedades brasileiras do gengibre são muito semelhantes entre si, independentemente da região de origem (Blanco, et al., 2016), reforçando a necessidade de incentivar pesquisas de melhoramento genético neste gênero.
Nesse sentido, visando melhorias de caráter econômico-científico, é urgente o esclarecimento da importância de estudos, dentro do âmbito genético, para o melhoramento de plantas com características de interesse econômico e social.
Referências Bibliográficas:
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Tema muito bacana! Legal saber a força da ESALQ sobre o banco de germoplasma do gengibre!