Plantas Medicinais: Conhecimento Popular ou Científico?
- GEPLAM
- 4 de mar. de 2022
- 4 min de leitura
Autores: Anita Seneme Gobbi, João Vitor Ferro Mazzei, Jonathan Ferreira Macedo e Maurício Jampani de Souza

(Imagens: Madeleine Steinbach, Chokniti Khongchum)
Conhecimento, do latim cognoscere, significa “ato de conhecer”. Tal ato é possível apenas aos seres humanos, dotados de uma capacidade intelectual que nem se compara aos demais seres vivos da Terra. No entanto, o conhecimento pode, muitas vezes, ser confundido em certos aspectos, como, por exemplo, em quais critérios, ou fontes de pesquisa devemos nos basear para obtê-lo.
Existem vários tipos de conhecimentos presentes em nosso dia a dia. Nesse texto, apresentaremos duas vertentes: o conhecimento científico e o conhecimento popular. Apesar de ambos serem muito importantes, há entre eles uma distância significativa em vários quesitos, incluindo os critérios para serem construídos e a veracidade da informação que os compõem, por exemplo.
O conhecimento científico baseia-se, acima de tudo, no método científico, o qual estrutura-se por meio de hipóteses iniciais criadas a partir de observações ou suposições, as quais serão colocadas à prova por meio de experimentos para que sejam de fato validadas ou não.
Tais hipóteses podem, muitas vezes, serem baseadas em conhecimentos científicos prévios, porém, todas elas necessitam passar por um longo processo de pesquisa e experimentação com o objetivo de comprovar ou refutar a hipótese. Assim, o experimento que avalia a hipótese deve ser replicável para ser considerado válido, ou seja, qualquer pessoa poderá chegar às mesmas conclusões que o(a) pesquisador(a) em questão, desde que siga as condições e os passos previstos no “roteiro” do teste.
Como exemplo desse roteiro, podemos imaginar a seguinte situação: um pesquisador deseja saber qual é a melhor combinação de nutrientes para uma certa espécie de planta, para isso ele monta diversos vasos com diferentes quantidades e combinações de nutrientes (com base em dados já respaldados cientificamente, ou seja, através de testes com outras plantas, determinando quais são os nutrientes mais indicados), e após esse processo, ele acompanha tais plantas por um período fixo de tempo e igual para todas, chegando ao final do experimento com as suas conclusões.
Quando essa pesquisa for publicada, nós podemos observar na parte de Material e Métodos todos os passos dados pelo pesquisador, como por exemplo a quantidade de nutrientes, quais as combinações usadas, qual o tempo que as plantas foram observadas, em quais períodos as plantas receberam água/luz e entre outras diversas variáveis fixadas pelo pesquisador para observar de fato como a variação do conjunto de nutrientes influenciou no desenvolvimento.
Esse tipo de conhecimento é essencial para constatações que influenciam diretamente em nossa vida, na produção de vacinas - assunto amplamente discutido na atualidade - e que envolve os procedimentos e observações que resultaram no desenvolvimento desse tipo de imunização à certa doença, por exemplo. Além disso, existem órgãos mundialmente reconhecidos, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Brasil, que são responsáveis por assegurar que os procedimentos são válidos e com potencial de replicação, garantindo a veracidade da hipótese inicial levantada pelos pesquisadores.
Semelhantes a esses órgãos, existem os pares, isto é, pesquisadores que trabalham geralmente em periódicos, locais onde os artigos científicos são divulgados para a sociedade e para a comunidade acadêmica como um todo, a fim de disseminar descobertas. Os pares são revisores que podem ou não ser da mesma área que o pesquisador, mas que devem avaliar minuciosamente as constatações presentes no trabalho submetido para análise, para que as informações sejam verídicas e baseadas em fatos, evitando problemas futuros com afirmações errôneas baseadas em resultados irreais. Infelizmente, constatações errôneas têm se intensificado, por isso, é fundamental utilizar diversas fontes para fundamentar opiniões.
Assim como o conhecimento científico é disseminado em escolas, universidades, programas de televisão e dentre outros, o conhecimento popular é passado mais comumente de geração para geração em diversas famílias e círculos sociais. Dessa forma, esse tipo de ensinamento parte do princípio da experiência própria, um aconselhamento baseado em situações já assistidas e vivenciadas. Essas vivências podem até ter credibilidade pela percepção rotineira, mas é fundamental se respaldar na ciência para confirmar suas diretrizes.
Dentro da temática do GEPLAM, sabe-se que o conhecimento popular é facilmente associado à utilização de plantas medicinais, uma vez que esse tipo de experiência é propagada entre conhecidos, amigos e familiares há vários anos, estando intimamente relacionado às comunidades tradicionais. Logo, é rotineiro que alguma pessoa mais velha que você conheça possa te indicar algum tipo de chá para alguma enfermidade ou até mesmo para situações mais cotidianas, como ter uma noite melhor de sono. Mesmo com fatídicos efeitos, vale ressaltar a importância de perceber que cada pessoa pode ter uma reação diferente influenciada por compostos químicos, necessitando cuidado na utilização de plantas medicinais.
É válido ressaltar que um tipo de conhecimento não anula o outro, de modo que não devem ser subestimados, mas sim complementados, visto que o conhecimento popular colabora para a realização de estudos e de constatações científicas, para assegurar que o mesmo chá que pode fazer bem em certa ocasião, não prejudicará outra pessoa quando utilizado em grandes quantidades, por exemplo. Muitas instituições realizam vínculos significativos para a aplicação de métodos que confirmam conhecimentos populares, tornando-os ainda mais fortes e importantes dentro de uma sociedade, principalmente ligada à valorização de povos tradicionais, como também o papel fundamental da ciência.
Um terceiro conceito, bastante obscuro e danoso, que é difundido amplamente é a Pseudociência. A pseudociência nada mais é do que conhecimentos que se dizem ser “baseados na ciência”, mas que carecem de qualquer respaldo científico. Em breve publicaremos sobre a temática. Fiquem ligados em nossas publicações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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